A ASAE tem vindo a tornar Portugal num país asséptico e devido ao excesso de mediatismo das suas acções acabou por se tornar em piada nacional. O que vou contar a seguir não tem piada nenhuma e por muitas voltas que dê não consigo culpar a ASAE. A asseptissidade dos sentimentos dos portugueses não foi imposta pela ASAE. Surgiu aos poucos com a vida moderna, cresceu com a desconfiança geral e ganhou raízes no medo.
Ontem a minha mãe chegou a minha casa e encontrou a porta escancarada. Ela estava sozinha com a Mada e assustada com o cenário não quis entrar sozinha. Tocou à campainha de todos os vizinhos e mais alguns. Nada. Num domingo à tarde ninguém abriu a porta. Ela continuou a tocar. Perante a insistência a vizinha do lado abriu. Após a minha mãe explicar a situação ela lá disse que a porta já estava assim aberta desde manhã. Lá falou em horas e a minha mãe mais ou menos percebeu que um de nós ao sair de manhã deveria ter deixado a porta aberta. Entrou. Tudo no sítio, ninguém à vista. Obrigada vizinha (?!?!?) e foi para dentro.
Agora eu pergunto: Será que a minha vizinha ao ver a porta aberta não achou estranho? Não podia ter tocado à campainha e na falta de resposta ter puxado a porta? Quantos vizinhos mais terão visto a porta aberta e achado normal?
Tenho saudades dos vizinhos antigos que emprestavam ovos e chávenas de açucar, sabiam a nossa vida toda e acudiam quando alguém gritava por ajuda. Os meus não são assim e de certeza que eu também não sou. Cumprimento-os sempre que os encontro e já chegámos a trocar mais do que duas palavras. Eles sabem o nome da minha filha, mas são incapazes de fechar uma porta aberta ou tocar a uma campainha para confirmar se está tudo bem. E eu seria? Depois disto a resposta é viciada.
Fiquei enraivecida, assustada, danada. Dou por mim a jurar não trocar nem mais uma palavra com qualquer um deles. E, no fim, penso que é por isso que estou a escrever este post. E desisto. Estou preocupada com elas as duas lá em casa sozinhas, estou desiludida com os comportamentos humanos e estou danada com quem deixou a porta aberta. É que não fui eu a última a sair de casa ontem...