Dentes

Ainda tenho a cabeça a andar à roda da noite passada e já me estou a preparar para outra.

Os malvados dentes que ali andam, e até já picam, não se decidem a romper.

E ela não sabe o que fazer à vida dela.

Dorme um bocadinho, brinca um bocadinho, chora um bocadinho, colo um bocadinho.

Nada lhe apetece. E a mim apetece-me muito dormir. Um bocadão.

Em oito meses nunca tinha tido uma noite assim. Nem quando amamentava de três em três horas. Era maminha e dormir logo. As duas. O papá fazia o transporte dela para a sua caminha e ainda me aconchegava o edredon. Nem ontem, nem hoje há papá, mas há dentes.

E eu não gosto de dentes. Dos meus porque são tortos. Dos dela porque não saem. E mesmo que os dela venham direitos já decidi que não gosto deles. Não gosto porque tenho sono.

Agora (não) vou dormir!

E estou cansada por ter andado para aqui a rodopiar. Figuras tristes de mãe e filha a dançar pela sala em pijama. Valeu a pena pelas gargalhadas dela. Espero que tenha valido a pena para termos uma noite tranquila. Adormeceu profundamente à cinco minutos. Eu sou a seguir.